Antoine Abi Aad e a caligrafia como ponto de encontro entre culturas
Por Luana Viegas e Jeniffer Mendonça
Durante os dias 7, 8 e 11 de agosto, designers, estudantes e público em geral tiveram a oportunidade de imergir na área de comunicação visual por meio da caligrafia e tipografia árabe. “O objetivo foi transmitir o espírito da escrita árabe para a latina”, conta Antoine Abi Aad, professor da Academia Libanesa de Belas Artes, na Universidade de Beirute, e coordenador do curso Uma exploração intercultural das letras.
Os encontros aconteceram no espaço da Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul – Países Árabes, BibliASPA. Traduzidas para o português, as aulas foram divididas em três dias e exploraram, em cerca de 15 horas, as relações entre as escritas latinas e orientais em diversos suportes gráficos. Inédito no país, o curso é parte integrante de um projeto internacional desenvolvido por pesquisadores e artistas no Líbano, na África do Sul, no Japão e agora no Brasil. Em setembro, os trabalhos selecionados serão expostos no Japão. Além disso, o projeto prevê a possibilidade de publicações multilíngues que incluem as obras realizadas por estudantes e artistas brasileiros.
Os alunos foram introduzidos ao alfabeto árabe e às técnicas utilizadas na caligrafia para a constituição de figuras e retratos, como a cashida. Em seguida, foram utilizados fios de arame e cobre para escreverem palavras e, assim, reconstruir os trabalhos em diversos tamanhos. Passada essa etapa, os alunos repassaram as escritas do fio para uma folha ou computador. Cada um criou o que desejava, desde o próprio nome a uma frase.
Alguns não eram da área de design, mas aproveitaram ao máximo os encontros. Para Sineval Rodrigues, que trabalha com educação para executivos, manter a mesma técnica ao passar a escrita feita com o arame para o papel é um desafio, já que o material apresenta um padrão formal a ser seguido. “Saímos do empírico para uma abstração de nível muito alto que não estamos habituados a fazer”, declara Rodrigues. Segundo ele, “por ter essa experiência de entender como funciona o pensamento de um profissional de arte, passou a enxergar as letras como equações algébricas, e a cada orientação encontrou novas possibilidades”.
O designer gráfico Lucaz Mathias, do coletivo Design Vale, atenta que as plataformas utilizadas na prática da caligrafia representam diferentes formas de expressão. Enquanto escreve um trecho da música Maracatu Atômico por meio do gride, ferramenta que simula um papel quadriculado no programa Adobe Illustrator, Lucaz ressalta que dar forma à letra (lettering, no design) manualmente é uma atividade única. “Nunca uma peça sai igual a outra, e isso revela a identidade da pessoa”, afirma. Para ele, a possibilidade de unir a caligrafia à tipografia promove novos olhares sobre como construir e estudar diferentes métodos na profissão.
A intenção de Abi Aad foi mesclar as novas tipografias com a cultura do Brasil. Durante as aulas, sugeriu aos alunos músicas brasileiras na composição das obras, já que “são bem conhecidas” internacionalmente e demarcam “um traço cultural” muito forte do país. “A caligrafia é a base do design, cada um é diferente em cada país. Os japoneses são mais emotivos, os africanos mais artesanais e os brasileiros são muito coloridos”, declara Abi Aad. Detalhes como as cores em um projeto revelam significados muito particulares de cada nacionalidade. “O vermelho, por exemplo, em países da Ásia, significa sorte, mas em países latinos representa calor, algo quente”, completa o professor, que é doutor em Filosofia do Design e Compreensão de Ciências Humanas pela Universidade de Tsukuba, no Japão.
Mas nem só de arte vivem os seres, assim a culinária também esteve presente nos encontros. Com um cardápio variado de comida típica árabe, os alunos saborearam pratos como fatuch e falafel. A ideia era apresentar um pouco da cultura dos países do Oriente Médio pela alimentação.
Em sua terceira visita ao Brasil, Antoine Abi Aad destaca que a experiência de ministrar as aulas no país para um público diversificado é motivadora. “Eu quis mostrar às pessoas, por meio da caligrafia, a capacidade de criação. Designers têm uma facilidade maior, mas a troca de experiências com quem não é da área é importante para conectá-las”, explica o professor.
O artista é reconhecido pelas mais de 80 exposições e oficinas internacionais em países como Líbano, Japão, Rússia e Alemanha. No Brasil, coordenou workshops em 2010, na Universidade de Brasília, e em 2011, no Maranhão.
A BibliASPA recebe cerca de 300 refugiados por semana, de mais de 40 nacionalidades, e lhes oferece gratuitamente cursos, alimentação, transporte, traduções, apoio assistencial, jurídico e psicológico.
Utilizamos cookies para garantir que lhe proporcionemos a melhor experiência em nosso website. Se você continuar a usar este site, entenderemos que você está gostando do nosso conteúdo.Ok